Fernando Igor de Godoy

Maçaricos: as aves migratórias que vem de longe! Você já reparou naquelas aves de coloração cinza e que ficam na beira da praia? Talvez não, porque são pouco chamativas e não costumam despertar o interesse das pessoas. Pois é, essas aves, conhecidas por maçaricos ou batuíras tem muitas peculiaridades e uma história incrível. Para começar, em geral, tais aves apenas estão de passagem no nosso litoral. Isso quer dizer que são migratórias, oriundas de regiões bem mais frias do planeta. A maioria vem da América do Norte, mais precisamente o Canadá. Lá eles se reproduzem nos distintos ambientes de uma formação vegetal conhecida como tundra. Depois do crescimento dos filhotes, adultos e jovens partem em jornada ao sul, já que a tundra tende a congelar e os recursos se tornam mais limitados.

Algumas espécies, em menor número, fazem o movimento inverso, saindo do extremo sul da América do Sul, como a região patagônica em direção ao norte. Assim, as espécies que vem da América do Norte são mais comuns no nosso litoral na primavera e verão brasileiros, enquanto que as espécies do sul, no inverno. Tais aves são extremamente adaptadas a percorrer distâncias tão grandes, conseguindo inclusive se orientar por estrelas e montanhas. Existem várias rotas de migrações, algumas incluem o interior do continente, mas as principais são litorâneas. 

Os maçaricos fazem esses movimentos anuais, percorrendo dezenas de quilômetros em busca de comida e locais para descanso. Por isso, a conservação de áreas úmidas é de extrema importância para a manutenção dessas aves. Muitas espécies já apresentam declínio populacional, ou seja, estão ameaçadas devido aos impactos que as áreas úmidas sofrem, como ocupação humana, poluição por esgoto e efluentes em geral, trânsito em praias.  Há inclusive um Plano Nacional para a Conservação das Aves Limícolas Migratórias.

Existem muitos tipos de maçaricos, e o melhor jeito de identificá-los, além da plumagem, é observar sua forma, tamanho, ambiente que estão usando e o comportamento. Alguns maçaricos podem ser identificados só pelo “jeito de andar”, como mexem o pescoço e cauda! Apresentam duas plumagens principais: a reprodutiva, que costuma ser mais vistosa, contrastante e algumas vezes colorida; e a não-reprodutiva, a qual tende a ser mais apagada e com coloração branca-acinzentada predominante. Em geral as espécies permanecem em nossas áreas úmidas com a plumagem não-reprodutiva, mudando de plumagem para retornar a migração.

No entanto, indivíduos com resquícios de plumagem reprodutiva podem ser observados tanto nos períodos de chegada quanto de retorno. Cada espécie pode usar um ambiente diferente (rio desaguando no mar, lagoa, mangue ou até a baixa da maré), ou usa o mesmo ambiente para obter recursos distintos e/ou de forma distinta. Por exemplo, o maçarico-branco aproveita o retorno da água do mar, para pegar moluscos que vieram com as ondas. Já o maçarico-de-bico-torto é encontrado em praias perto do mangue e é especialista em pegar caranguejos. Agora que você sabe um pouco mais sobre os maçaricos e estamos em uma época excelente para avistamentos, que tal procurá-los nas praias e lagoas?